JOGO 38 – História de não acontecer x Os espiões

JOGO 38

História de não acontecer,
de Reges Schwaab (Modelo de Nuvem /2010)
x
Os espiões,
de Luis Fernando Verissimo (Objetiva / 2009)

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JUIZ
Felippe Cordeiro – É paulista formado em Comunicação Multimídia pela Universidade Metodista de São Paulo. Como produtor, trabalhou para a MTV e a Rede Bandeirantes. Atualmente, estuda cinema na NYFA, é editor e colunista do site Meia Palavra, além de colaborador com críticas de cinema para o b33p.me e o Judao.com.br.

O jogo

Julgar esses dois exemplares pelo projeto gráfico é quase uma covardia, é nítida a desvantagem que Os espiões sofre ao se deparar com História de não acontecer. O livro de Verissimo filho, editado pela Alfaguara, segue o mesmo padrão da editora para quase todos os seus autores, com o título e nome do autor em uma caixa suspensa carregando ao lado o símbolo do selo. A brincadeira do homem atrás do poste é uma referência sem graça ao que nos depararemos na história (ou quase, mas foi uma infeliz escolha). Enquanto isso, o livro de Reges Schwaab é um apetite para os olhos: uma escada em caracol em preto e branco. Não feliz em representar uma espiral, a escada é irregular e assimétrica – possível notar após algum tempo e ainda se encantar com a composição.

Os espiões começa bem. Tem um personagem central simpático, em momentos forçado demais para ser engraçado, e com um conflito ótimo para sua vida: é um editor de uma editora que não publica livros, teve apenas um sucesso de vendas e procura outro e, nos fins de semana, enche a cara no bar do Espanhol. O mistério todo se envolve em partes de um manuscrito muito bem redigido assinado por uma certa Ariadne, que parece querer revelar ao mundo os segredos de uma pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul. Ele recruta amigos e desafetos para descobrir a veracidade desse manuscrito. O título do livro poderia muito bem ser trocado por Os fofoqueiros ou Os Nelsons Rubens tamanha é a rede de fofocas, e não espionagem, que há na história e as diversas informações equivocadas – criando muitas ironias como troca de identidades. Um dos melhores personagens, o Professor, aparece e desaparece diversas vezes pela trama marcando bastante sua falta.

Ainda assim, Verissimo não tem uma veia cômica tão boa para se apegar em clichês policiais e transformá-los em uma piada constante, ou seja, falta uma certa inspiração para não soar apenas simpático em alguns momentos. Sem contar que, ao chegarmos ao final, parece que tudo foi escrito às pressas, sem se preocupar em manter o suspense que começava a agradar.

Já a obra de Reges Schwaab explica logo no começo que a assimetria de seus parágrafos nada tem a ver com estilo, mas ele simplesmente quis assim. História de não acontecer pede para o leitor ler tudo que acontece na ordem certa e denominada na folha de rosto dessa novela. É preciso estar atento a cada parágrafo para aproveitar a experiência de ler essa obra. Resumir seria um erro, pois isso colocaria todo o charme do livro à prova, seria como contar o filme Amnésia na ordem cronológica para uma pessoa que não assistiu – pode fazer sentido, mas soaria sem graça. Existe um tipo de trauma e um pouco de perversão. Os personagens são denominados por generalização: Homem, Velho, Tia; o que colabora para o labirinto inicial, quando nada parece estar certo dentro do contexto.

Não se enganem: não é um livro perfeito e não mudará sua vida. Existem passagens mecânicas, frases jogadas como se fossem para criar um efeito ou ficar para a posteridade. Todavia, isso não estraga a grande ideia de Schwaab para conceber esse pequeno livro de horror.

As duas obras são extremos, enquanto uma parte para a comédia, a outra parte o horror. Uma é homenagem a um gênero, a outra quer sair de padrões convencionais.

E não é o que os pretensos sempre querem? Criar uma nova linguagem, escrever grandes histórias, grandes enredos linguistícos e tantos outros, etc.? Não vejo História de não acontecer como uma pretensão, vejo como um exercício que deu muito certo. Trocando em miúdos, Os espiões é bem treinado, mas insiste em jogadas pouco criativas (o famoso chuveirinho), enquanto História de não acontecer tenta surpreender e apesar das pequenas falhas marca um gol de placa após o drible da vaca.

PLACAR
História de não acontecer 3 x 2 Os espiões 

VENCEDOR
História de não acontecer, de Reges Schwaab

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2 respostas para JOGO 38 – História de não acontecer x Os espiões

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  2. Diego Lopes disse:

    Pô, LFV leva uma surra de relho e ninguém comenta nada…

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